Um pouco do encanto da arte!!!
É FICÇÃO
Sempre consolei meus demônios dessa forma. Apartei-os dos curiosos, que me perguntavam sobre o que eu realmente queria dizer com meus textos, com essa frase, como se dissesse “não é a hora”. Esquivei-me dos elogios com sorrisos, e ombros encolhidos, e tapas nas costas, e tudo mais, tomando como meus os textos dos dedos que percorrem meu corpo ao teclado.
Até que, finalmente, calaram-se os demônios, girando, hipnotizados por uma capa vermelha de cotidiano, entorpecidos. Meus demônios, há mais de um ano, giram em torno do cansaço e do ódio das minhas palavras não ditas, como mosquitos na luz, de modo que não mais zumbem em meus ouvidos minhas loucuras. Creio que, por fim, seja a hora do escritor consultar-se consigo mesmo.
Estou seco de ideias.
Até que, finalmente, calaram-se os demônios, girando, hipnotizados por uma capa vermelha de cotidiano, entorpecidos. Meus demônios, há mais de um ano, giram em torno do cansaço e do ódio das minhas palavras não ditas, como mosquitos na luz, de modo que não mais zumbem em meus ouvidos minhas loucuras. Creio que, por fim, seja a hora do escritor consultar-se consigo mesmo.
Estou seco de ideias.
A última, patética, trata-se de uma metalinguagem de um escritor falido que não consegue escrever há mais de um ano, pois está conformado com suas revoltas.
Resolvi escrevê-la, somente para continuar recebendo elogios, já que os tenho com a improbidade típica de um possuído, soberbo, maldito. Sinto saudade dos pulsos que percorrem meu corpo, quando me levanto e caminho pela sala, pois sei que estou escrevendo algo bom. Sinto falta do tesão que me toma os membros e orifícios, quero soltar meus demônios para fazer ter com eles, no meu corpo, novamente, nosso prazer.
Perdoem-me os demais, os frágeis, os sensíveis, os reles que sofrem pelo trabalho, por amor, pela falta de grana, pelos desenganos, por outras pessoas. Eu, menor que todos, sofro pelos silêncios, pelo atrito que rasga a rua e me sugere um texto que nunca se termina, pela quase palavra que se cala em minha garganta e pelo ódio que tem nome, sobrenome, endereço e CEP, mas que não tenho coragem de bater na porta para entregar a carta. Tudo em mim serve apenas para se encrustar numa página.
Meus demônios se calam com a merda do amor que não basta. E é isso mesmo. Calam-se com o medo quando vou ao banheiro e sinto o cheiro da minha merda, que não era daquele jeito há um tempo atrás, calam-se com o trânsito, que outrora me revoltava, com meu sobrepeso, com minha falta de ar, com minha falta de disposição.
Nesse momento, tenho apenas uma opção para impedir que o adoecimento me salve de minhas maldições, uma ideia genial: provocar meus demônios com um texto que fale de um escritor que não escreve nada há mais de um ano, uma figura patética que passa seu tempo livre consumindo pequenos esforços.
Vai, seu filho da puta!
O escritor se coloca, desse jeito, nu e preso que nem um sacana – que, de fato, é – numa declaração de amor brega aos próprios demônios. Pelo menos eu vou gozar antes que essa desgraça acabe.
Se você gostou desse texto, de ombros encolhidos e olhar fugidio, te digo: obrigado. É só ficção.
Dispéptico Clorídrico